31 março 2007

Uma Recordação

Lembra-me ver-te inda infante,
Quando nos campos corrias
Em folguedos palpitantes;
Eras bela! e então sorrias.

Depois, na infância eras inda,
Junto ao cadáver rezavas
De tua mãe com dor infinda;
Eras bela! e então choravas.

Num baile vi-te valsando
Da juventude nos dias,
Todos de amor fascinando;
Eras bela! e então sorrias.

Dias depois encontrei-te;
Nos céus os olhos fitavas;
Sem me veres contemplei-te;
Eras bela! e então choravas.

Quando ao templo caminhando
Entre flores e alegrias;
De esposa a vida encetando,
Eras bela! e então sorrias.

Quando na campa do esposo
Com teu filho ajoelhavas,
Grupo inocente e saudoso!
Eras bela! e então choravas.

Num ataúde deitada
Eu te vi em breves dias,
Mimosa flor desfolhada!
Eras bela! e então sorrias.

Sorrindo, na vida entraste,
Sorrindo deixaste a vida;
Alguma flor que encontraste
A espinhos a viste unida.

Sim, às vezes tu sorrias,
E os sorrisos o que são?
Quase sempre profecias
Das penas do coração.


«Poesias» de Júlio Dinis

Nota de Autor: Sorrisos e lágrimas andam muitas vezes acompanhados, uns por os outros, na vida.
Olhada por este lado, esta poesia é verdadeira.....

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