Soneto
Se, para possuir o que me é dado,Tudo perdi e eu próprio andei perdido,Se, para ver o que hoje é realizado,Cheguei a ser negado e combatido.Se, para estar agora apaixonado,Foi necessário andar desiludido,Alegra-me sentir que fui odiadoNa certeza imortal de ter vencido!Porque, depois de tantas cicatrizes,Só se encontra sabor apetecidoÁquilo que nos fez ser infelizes!E assim cheguei à luz de um pensamentoDe que afinal um roseiral floridoVive de um triste e oculto movimento.
António Botto in «Aves de um Parque Real»
Foto de Gle Peres in Flickr
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