Quis o destino dar-me o entendimento
Quis o destino dar-me o entendimento
que aos outros nega ou muito regateia
para sofrer do mal que nos rodeia
mais talvez que do próprio sofrimento.
Entendo a voz do mar e a voz do vento,
ferocíssima voz de raiva cheia.
Sinto o pudor que a pétala incendeia
no fecundante e trágico momento.
Percebo a Natureza em tudo quanto
são cuidados, tristeza, inquietações,
heróica dor sem lástimas nem pranto.
Sacrário aberto às rudes aflições,
oiço falar os homens e entretanto
não lhes entendo as falas nem razões.
"Textos de infância e juventude" de António Gedeão
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