
Hoje, que seja esta ou aquela,
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.
Já fui loura, já foi morena,
Já fui Margarida e Beatriz,
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.
Que mal faz, esta cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se tudo é tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?
Por fora, serei como queira,
a moda, que vai me matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importa quando.
Mas quem viu tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seus,
e morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.
Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho.
Poema de Cecília Meireles in "Mar Absoluto"
Imagem de Norman Rockwell "Menina ao Espelho"
2 comentários:
Gosto muito de Poesia e C. Meireles então - Adoro:)
Kiss e Bom Fim de Semana :)
É uma grande poetisa que infelizmente muita gente desconhece. Sou fã da poesia dela.
Beijo e bom fim de semana :)
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