10 março 2009

História do Rei Transparente




“Sou mulher e escrevo. Sou plebeia e sei ler. Nasci serva e sou livre. Vi na minha vida coisas maravilhosas. Fiz na minha vida coisas maravilhosas. Durante algum tempo, o mundo foi um milagre. Depois a escuridão voltou. “

São as primeiras linhas da "História do Rei Transparente" de Rosa Montero. Quando as li às uns meses atrás na Academia dos Livros fiquei com a curiosidade bastante aguçada. Tive uma vontade imensa de conhecer a mulher que escreve assim e, felizmente a oportunidade surgiu e cá está a minha opinião sobre o livro.

França – Século XII

A narrativa é feita na primeira pessoa. Leola conta-nos a história da sua vida desde os tempos de plebeia até ao momento em que escreve este livro. É uma camponesa que, num momento de inesquecível crueldade e tristeza, perde o seu lar. A sua família (pai, irmão e namorado) são levados à força pelos "cavaleiros de ferro", porque são precisos homens nas batalhas sangrentas, além do mais, naquela época quem por lá morre é homem honrado. (A história decorre na época medieval).
Leola vê-se então sozinha e abandonada. Ela vive numa época violenta onde as mulheres são um elo muito fraco e dependente de protecção masculina, sente-se em perigo e sabe perfeitamente que enquanto estiver sozinha é presa demasiado fácil, por isso "rouba" as roupas de um jovem cavaleiro morto num terrível combate e espera que a armadura de ferro a ajude a esconder a sua aparência feminina. Leola é corajosa, determinada e inteligente. Ela sabe que o seu disfarce não durará por muito tempo, por isso parte sem demoras em busca dos seus familiares. A caminhada que inicia é uma aventura longa, perigosa e surpreendente. O mundo é cruel, os tempos que se vivem são violentos, mesmo para um homem, quanto mais para uma mulher vestida de homem. Leola tem de aprender a usar as armas, a lutar como um homem, a viver como um homem para sobreviver.

O relato da sua vida peregrina é emocionante e muito intimo, a autora "esconde-se" na personagem principal e dá-nos a conhecer os seus pensamentos, os seus sentimentos, as suas emoções. A escrita é tão intimista e directa que o leitor sente-se imediatamente na pele de Leola, a camponesa que se faz mulher guerreira para sobreviver numa sociedade carente de quase tudo, um mundo cruel, desequilibrado, desgovernado e acima de tudo injusto.

Na escrita de Rosa Montero não há rodeios desnecessários. O fio da meada vai-se desenrolando com palavras sábias de onde transparece um profundo conhecimento da sociedade medieval.
Esta leitura valeu cada minuto...
Ainda sobre a autora:
Rosa Montero é espanhola, estudou Jornalismo e Psicologia.
Trabalha exclusivamente para o jornal El País.
Em 1980, ganhou o Prémio Nacional de Jornalismo.
Escreveu vários romances que estão traduzidos para português:
1995 – Histórias de Mulheres
1997 – A Filha do Canibal
1998 – Amantes e Inimigos
1999 – Paixões: Amores e Desamores que mudaram a História
2001 – O Coração do Tártaro
2003 – A Louca da Casa
2005 – História do Rei Transparente

4 comentários:

Cantinhos da Surpresa disse...

Esse livro é muito bem escrito, vou ler outros livros da autora!!!

LUZIMAR disse...

Olá .... Passando para deixar meu carinho e dizer que amo vir aqui.


beijos

Anónimo disse...

Oi Amor, eu não conhecia esta autora Rosa Montero, e pelos teus comentários vou logo ler o livro História do Rei Transparente, eu adoro a literatura de Portugal e da Espanha. Antonio, Brasil.

Maria Vitamina disse...

A Rosa Montero estava verdadeiramente inspirada quando escreveu este livro. Por acaso ainda não tive oportunidade de ler outro livro dela, mas se for na mesma linha deste vale cada minuto de leitura. Obrigado pelos comentários, é bom saber que não escrevo para o "boneco"! ;)